31/03/2018

Crítica do filme: 'Fala Sério, Mãe!'


Falar sobre as relações entre mães e filhos nunca é fácil, e sempre é, de cada forma diferente, uma maneira singela e emocionante de chegarmos a uma auto reflexão sobre nossas vidas. Um dos grandes méritos dessa surpreendente produção nacional, Fala Sério, Mãe!, baseado em um livro, homônimo, de sucesso da conhecida escritora Thalita Rebouças, é conseguir por meio de cenas simples e uma atuação muito competente de Ingrid Guimarães passar toda uma emoção refletindo o cotidiano de muitas famílias. Lançado nos cinemas meses atrás, a produção foi um grande sucesso, com todo o merecimento.

Na trama, conhecemos em um período de cerca de 18 anos a vida de Ângela (Ingrid Guimarães) que no início acaba de ser mãe de sua primeira filha, Malu (Larissa Manoela) e se encontra apavorada pelas emoções provocadas pela chegada da primeira filha. Depois, o longa-metragem mostra rapidamente o crescimento de Malu e todas as situações de alegria e tristeza que vão entrar na vida de mãe e filha.

O roteiro adaptado é bastante interessante, aparenta não perder a essência do livro, tem uma ótima narrativa na questão dá ótica, que troca no olhar de mãe e filha. Explorando situações do dia a dia, como a primeira viagem sozinha da filha, as aflições com o primeiro namorado, as distâncias que chegam com os sonhos se tornando realidade... mesmo com alguns clichês, o filme segue seu rumo de maneira delicada, respeitosa e transbordando emoção. Curto e objetivo, o espectador ganha uma aula sobre sentimentos.

Ingrid Guimarães é o porto seguro na figura da mãe, forte, valente e preocupada, também passa por momentos difíceis onde a emoção toma conta. Ingrid mostra que é muito mais que uma excelente comediante, é o grande destaque do filme, tudo passa pelas reações de sua personagem, que consegue tirar risos fáceis do espectador, além de lágrimas nos momentos complicados.

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30/03/2018

Crítica do filme: 'Conspiração Terrorista'


Sabe aquele filme que quando começa você sente que já viu? Conspiração Terrorista, uma das dezenas produções que a Netflix vem lançando aos longo dos últimos meses, talvez seja o mais fraco dessa safra. Dirigido pelo cineasta britânico Michael Apted (dos ótimos Enigma e Nell), o projeto encalha em um roteiro cheio de clichês, com personagens pouco inspirados e um ritmo que não consegue o equilíbrio, frustrando qualquer tentativa de interação com o público. A produção conta com o sumido Orlando Bloom (em mais um papel imperceptível em sua carreira), Noomi Rapace como a protagonista e Michael Douglas como um dos coadjuvantes.

Na trama, conhecemos uma quase ex-agente da CIA chamada Alice (Noomi Rapace) que acabou sendo colocada na geladeira pela agência por conta de problemas em uma operação no passado. Especializada em interrogatórios, acaba sendo envolvida em uma operação em Londres quando é contatada por um grupo que se disfarça de agentes da CIA. Assim, precisa correr contra o tempo para buscar sua inocência e buscar informações mais completas sobre um eminente ataque biológico em um dos lugares mais freqüentados do mundo.

Dividido em arcos bastante confusos, em sua primeira parte, a mais interessante, vamos descobrindo a rotina de Alice e pequenas pinceladas sobre quem ela realmente é e sua atual situação com a agência da qual era uma das principais especialistas em interrogatórios. A partir daí, tudo fica muito confuso, buscando criar surpresas para o público, o famoso plot twist, muito visto em seriados que conseguem sucesso na TV norte americana, o roteiro assinado por Peter O'Brien (em seu primeiro trabalho em cinema, antes, somente, escreveu um roteiro de um jogo de vídeo game) se perde totalmente, dando preferência para cenas de ação do que propriamente dito à trama.

Mesmo quem gosta de filmes de ação, perceberá semelhanças com outras dezenas de produções que assistimos nos cinemas ou na televisão ao longo dos anos. Conspiração Terrorista é resumidamente um gigante avião que não tem combustível nem para uma viagem Rio x SP.

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26/03/2018

Crítica do filme: 'Ícaro'


Vencedor do primeiro prêmio conquistado por uma produção da Netflix no Oscar, o excelente documentário Ícaro traz a tona um caso que afeta de maneira geral a integridade de órgãos de proteção ao doping pelo mundo. Dirigido pelo ciclista amador Bryan Fogel, o projeto é um grande experimento sobre o uso de substâncias proibidas em grandes eventos esportivos, principalmente, o maior de todos eles, as olimpíadas.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Bryan Fogel, um amante do ciclismo, fã (ou ex-fã) de Lance Armstrong que resolve investigar por si mesmo um dos casos mais elaborados de doping da história, ocorrido na Rússia. Assim, consegue o contato do bioquímico Grigory Rodchenkov, um dos chefes do controle russo de doping. Assim, assistimos por meio de declarações polêmicas e muitas provas apresentadas que o programa russo usava drogas desde da década de 60 para melhorar o desempenho dos seus atletas, e o pior de tudo, sempre com o aval do presidente, Vladimir Putin.

De um simples experimento para tentar tirar a prova real se realmente algumas substâncias aumentam o desempenho dos atletas, o projeto se transforma em um grande thriller documentário principalmente quando o cerco das autoridades mundiais, principalmente a WADA, se fecha em torno dos russos. Antes consultor, do experimento que Fogel fez, Rodchenkov se torna pessoa não grata na Rússia e precisa fugir para os Estados Unidos em busca de proteção, pois seu depoimento para as autoridades é de supra importância para o melhor esclarecimento dos detalhes de todo o planejamento ilegal dos russos em diversas competições e de diversas modalidades esportivas ao longo dos anos.

A força das documentações e argumentos obtidos por Fogel e sua equipe, foram usados como argumentos para o veto da delegação Russa em muitas competições, inclusive nas olímpiadas que aconteceram aqui no RJ.


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19/03/2018

Crítica do filme: 'Sem Perdão' (Shot Caller)


O caminho sem volta, o eterno dilema entre a responsabilidade e suas consequências. Novo no excelente catálogo do Netflix, o drama Sem Perdão, que absurdamente não passou na janela cinema aqui no Brasil, é um daqueles preciosos achados. Dirigido cineasta californiano Ric Roman Waugh (do interessante O Acordo (2013)), o longa-metragem é pura adrenalina, com cenas intensas e muito bem captadas. As atuações são excelentes, principalmente do protagonista, o Jaime Lannister do aclamado seriado da HBO Game of Thrones, o ator dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau.

Na trama, conhecemos o consultor de imóveis Jacob (Nikolaj Coster-Waldau) que após uma noite de comemoração com sua esposa e um casal de amigos acaba avançando o sinal vermelho, causando um acidente com mortes. Chegando na prisão de segurança máxima, percebe que precisa se impor para sobreviver nesse ambiente hostil. Assim, aos poucos, acaba se transformando no violento Money, um dos cabeças de um grupo violento.

O drama vivido pelo protagonista é intenso e bastante complexo. Antes um homem de bem, com princípios e muito ético, comete um erro que muda toda sua vida, o afastando do convívio dos que ama e aos poucos modelando sua personalidade. Um lado obscuro é a luz no fim do túnel desse sofrido personagem, que usa e abusa de sua racionalidade até nos momentos que encostam em um futuro final feliz. A viagem sem volta é constatada pelas reações do personagem, uma atuação espetacular de Nikolaj Coster-Waldau, seu grande trabalho no cinema até então.

Essa mudança de personalidade é a grande chave do filme para o sucesso de sua trama. Percebemos em uma narrativa com idas e vindas na trajetória de Money, como tudo foi acontecendo de uma hora para outra em sua vida. A força que possui vem de sua família, mesmo estando longe, pois sabe que para protegê-los terá que executar ações que vão contra a sua vontade. Na busca por proteção na prisão, a consequência é um inferno nunca camuflado de paraíso.

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15/03/2018

Crítica do filme: 'Maria Madalena'

Uma das figuras bíblicas mais misteriosas de todos os tempos é apresentada ao público dentro de uma forte narrativa, com argumentos bem embasados, delicadas e bem produzidas cenas, com legendas de explicações antes e no final da projeção, batendo o martelo para mais uma versão sobre Maria Madalena. A responsabilidade da direção fica a cargo do cineasta australiano Garth Davis (do melodramático Lion: Uma Jornada Para Casa) que impõe sua direção e ritmo elevando sequências de emoções mas caindo de repente com momentos de grande sonolência. No papel principal, a jovem mas experiente Rooney Mara, em um papel muito diferente da Lisbeth Salander de Fincher.

Na trama, escrita por Helen Edmundson e Philippa Goslett, conhecemos Maria Madalena (Rooney Mara) uma jovem por volta dos 20 anos que mora em um vilarejo de pescadores chamado Magdala. Maria não vive feliz, e luta contra sua família porque não quer se casar. Beirando a depressão e perdendo a vontade de viver, fica sabendo de pregações de um homem chamado Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix) e aos poucos vai se aproximando dele até virar uma das suas mais próximas discípulas.

O filme passa longe de algumas polêmicas, se aproximando mais no foco da protagonista ser uma pessoa muito importante na trajetória de Jesus pela Terra, já na vida adulta. Ao longo dos cansativos 120 minutos de projeção, percebemos um foco no feminismo, em uma história que foi escrita para se tornar atemporal. O Jesus interpretado pelo excelente Joaquin Phoenix quase passa desapercebido, dá margem para os coadjuvantes também brilharem, fato que infelizmente não acontece. O ritmo lento do projeto se entrelaça com momentos marcantes como a oração do pai nosso, que de longe é a melhor cena do filme.

Citada apenas dezessete vezes na bíblia, Maria Madalena foi uma figura bastante importante na trajetória de Jesus pela Terra, já na vida adulta. Para quem está curioso, o filme não consegue preencher muitos mistérios relatados por muitos de tempos em tempos. Como filme, funciona até certo momento mas os minutos vão se tornando cansativos longe dos clímaxs que possui.
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14/03/2018

Crítica do filme: 'A Número Um'


A força está nos argumentos, nos fatos. Com uma atuação destacada da excelente atriz francesa Emmanuelle Devos (indicada ao Goya desse ano e vencedora do Lumiere Awards 2018), A Número Um faz uma espécie de investigação sobre os preconceitos sofridos pelas mulheres no mercado de trabalho, assim, com um eficaz aspirador da ética navega por situações onde o conflito do poder se mostra como uma grande fraqueza em um mundo desenvolvido como o que vivemos hoje.  Dirigido pela cineasta francesa Tonie Marshall, roteirista do recente Sexo, Amor e Terapia, A Número Um é um filme importante e merece nossa atenção.

Na trama, conhecemos a determinada e de personalidade forte Emmanuelle (Emmanuelle Devos), uma executiva de uma grande empresa que após enfim ser reconhecida por todo o trabalho feito até então,  recebe a oferta de se tornar a primeira presidente da multinacional. Logo após receber essa oportunidade, percebe que será uma chance repleta de desafios, pois se aceitar ser a presidente terá que lidar com o preconceito de muitos homens da empresa e também seus egos, além disso, a decisão que tomar, afetará sua vida familiar com interesses em conflito com o marido.

O ritmo é lento, de vez em quando beira ao sonolento. É preciso estar atento à força dos detalhes e a atuação de sua protagonista. As entrelinhas dizem muito mais do que muito dos longos e intensos diálogos que navegam cena pós cena. O filme pode ser caracterizado como uma grande investigação sobre os direitos femininos no concorrido mercada de trabalho de um continente europeu repleto de mudanças em suas estruturas de gestões a cada ano.  Uma das referência de Marshall na hora de roteirizar (sim, ela também uma das roteiristas do projeto) foi o ótimo Margin Call - O Dia Antes do Fim de J.C. Chandor.

A parte familiar também ganha uma pequena lupa e em objetivas cenas, pouco aprofundadas é verdade, percebemos que as escolhas da protagonista ferem objetivos de seu marido, inflando uma sequência de consequências que afeta demais o relacionamento deles. A maneira como a personagem principal reage a todo o caos que se torna sua vida é de se chamar a atenção, sempre ponderada e fazendo parecer que tem sempre uma cartada na manga para as ações de pessoas que não a querem naquela posição da empresa.

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13/03/2018

Crítica do filme: 'A Livraria'


Ganhador do prestigiado prêmio Goya desse ano, o longa-metragem A Livraria, novo trabalho da renomada cineasta Isabel Coixet, é um singelo retrato sobre o mundo da literatura e tudo o que gira ao seu redor quando pensamento em sociedade em uma Europa repleta de transformações no final da década de 50. Baseado no aclamado romance homônimo de Penelope Fitzgerald, o projeto dá luz a força feminina em uma época repleta de tensões movidas por interesses.

Na trama, acompanhamos a saga de uma viúva bastante inteligente chamada Florence (Emily Mortimer) que após a perda do marido, resolve empreender, arriscando tudo que possui para abrir uma livraria em uma cidade litorânea no interior de uma Inglaterra perto do início dos anos 60. Enfrentando dificuldades que nunca imaginara, com maior força por conta de interesses de forças da elite local, encabeçada pela excêntrica Violet (Patricia Clarkson), Florence precisará ter muita força de vontade para seu negócio dar certo e também contará com a ajuda de Edmund (Bill Nighy), um recluso morador da cidade que está cansado da mesmice e da falta de renovação cultural onde vive.

Passeando por clássicos como Lolita, livro famoso e polêmico do escritor russo Vladimir Nabokov e Fahrenheit 451 do norte-americano Ray Bradbury, a protagonista embarca em uma viagem de renovação cultural na cidadezinha que escolheu. Esse despertar cultural é um grande choque para alguns, mas aos poucos, Florence, consegue ter mais adeptos a sua ideia empreendedora, fruto dos potenciais literários em abrir a mente para o mundo, uma grande janela para a alma.  

Tudo em The Bookshop, no original, é muito delicado e com um ritmo equilibrado. É uma adaptação forte e consistente do livro de Fitzgerald. Os embates entre Violet e Florence são ótimos e transparecem ao espectador todo o pensamento de uma época bastante limitada quando pensamos em liberdade intelectual e empreendimentos inovadores em uma sociedade que beira ao desconhecimento do mundo onde vivem.

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