30/11/2017

Crítica do filme: 'Borg vs McEnroe'

Antes de Sampras vs Agassi, antes de Nadal vs Federer, o universo dos esportes, não só do tênis, conheceu uma das mais expostas rivalidades, muito por conta das inúmeras diferenças entre os dois jeitos de ser. Borg vs McEnroe analisa as emoções e o lado psicológico em esportes de alto rendimento mostrando o início de um duelo que ficou marcado como uma das melhores finais de Grand Slam da história do tênis. Dirigido pelo cineasta dinamarquês Janus Metz Pedersen realiza um trabalho primoroso na direção e conta ainda com uma atuação inspirada do ator sueco, pouco conhecido no Brasil, Sverrir Gudnason que interpreta o complexo Björn Borg na fase adulta.

Na trama, voltamos a década de 80, no célebre dia da final de um dos torneios mais midiáticos de todos os esportes, a final de Wimbledon entre o sueco e tetra campeão do torneio Björn Borg (Sverrir Gudnason) e o nada carismático tenista norte americano John McEnroe (Shia Lebouf). A construção de como eles chegaram até esse grande momento da vida deles é passada a limpa em flashbacks que preenchem as lacunas de personalidade e criação que os levam a serem como são dentro de quadra. Assim, aos poucos vamos entendendo a mente de um verdadeiro campeão em um esporte onde a vitória e a derrota precisam ser aceitas sem perder a elegância.

Nada é ganho por acaso. Nessa verdadeira batalha épica do tênis que foi essa decisão de Wimbledon, com um Borg totalmente consumido pela exposição que tem por sua carreira e a pressão de estar sempre no topo e McEnroe usando e abusando de uma imaturidade constante, o filme navega na mente de um homem conhecido por ser gelado em momentos chaves, ser um adepto de manias, que não sabe lidar com a pressão midiática imposta pelo seu sucesso em contraponto a outro totalmente inconseqüente que se descontrola em entrevistas e exagera dentro de quadra.

Muito mais focado em Borg do que no seu rival canhoto das Américas, as dificuldades no seu relacionamento com a noiva e com seu técnico, esse último interpretado pelo gigante ator sueco Stellan Skarsgård, são melhor compreendidos por conta de como tudo começou, sua vida de origem humilde onde sua mãe sempre o defendia de um pai um pouco afastado. Quando era jovem e fora escolhido para representar a Suécia no mundialmente torneio conhecido como Copa Davis (uma espécie de copa do mundo do tênis, onde um grupo de tenistas representa seu país em simples e duplas), sua vida ganha novos ares e ele passa a percorrer torneios importantes e a ganhar fama e dinheiro se tornando um verdadeiro iceberg. Nos constantes momentos de crise, cresce a atuação de Sverrir Gudnason que além de tudo é deveras parecido com o ídolo sueco.

Já John McEnroe era um rebelde desde sempre, que buscava a todo instante a atenção do pai que quase nunca acontecera. Entrou no tênis mostrando um talento técnico e uma falta de preparo emocional, brigando quase sempre com juízes, com outros tenistas e com o próprio público. Borg e McEnroe tem duas maneiras distintas para buscar suas glórias. E esse é o grande mérito do filme: detalhar cada uma dessas personalidades do esporte de maneira transparente, objetiva mas sem perder o ritmo.


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25/11/2017

Crítica do filme: 'Verão 1993'



Indicado ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro pela Espanha, Verão 1993, com elogiadas passagens no Festival de Berlim e Festival do Rio, é um filme que fala sobre a visão do luto pelos olhos de uma criança que não consegue se sentir aceita. Muito bem dirigido pela cineasta espanhol Carla Simón, em seu primeiro trabalho como diretora de longa metragem, o filme, com um ritmo bastante lento, navega no campo do descobrimento sobre as coisas no olhar detalhista da jovem protagonista.

Na trama, conhecemos a jovem Frida (Laia Artigas) que recentemente perdeu sua mãe, vítima de uma doença terrível, e assim, como um pedido dela, Frida vai morar com um de seus tios em uma casa afastado dos grandes centros. Querendo atenção e muitas vezes não se sentindo aceita, Frida embarca em uma jornada de descobertas onde as interpretações para as situações geram dúvidas na cabeça da jovem.

A dor da perda aos olhos de uma criança é sempre algo com variáveis muito complexas. A jovem protagonista enfrenta seu luto, de perder pai e mãe, com a ajuda da família, principalmente de seu tio, irmão de sua mãe, que leva Frida para morar com sua esposa e filha. É como se Frida vivesse uma nova infância, com novos pais mas sempre com lembranças dos que se foram. A religiosidade da avó, a não compreensão da doença que a mãe teve, as implicância com a nova irmã mais jovem, contornam as cenas que possuem um olhar sentimental e emotivo da diretora.


O roteiro se estrutura através das fases que a protagonista atravessa. No primeiro ato, tudo é muito novo para a jovem, não sabe direito como lidar com seus novos guardiões e possui uma relação de distância, nos atos seguintes acontece o desenvolvimento e a chegada de um início de maturidade, principalmente quando se vê perdida, cria um espírito de auto proteção (como a cena da tentativa de fuga de noite da casa onde está), camuflado pelas ingenuidades da criança que ainda é. Verão de 1993 é um delicado retrato sobre a visão de uma criança perante as dificuldades que o mundo coloca em sua frente.
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23/11/2017

Crítica do filme: 'Soldados do Araguaia'


Exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Soldados do Araguaia, dirigido pelo cineasta Belisario Franca (‘Menino 23’), retrata de um novo ponto de vista, dessa vez a de soldados de baixa patente que foram forçadamente recrutados pelos militares da época, a polêmica Guerrilha do Araguaia (no sul do Pará). Ao longo dos intensos 72 minutos de projeção, vamos conhecendo novas histórias sobre os horrores que os militares faziam, em confronto contra guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil, que era puro terror, não tendo nenhuma objetividade de guerra.

O roteiro, escrito pelo diretor e Ismael Machado, navega por meio de relatos de testemunhas oculares que participaram da Guerrilha do Araguaia, no início da década de 70 (mais precisamente entre 72 e 75). Suas angústias, argumentos emocionados para que a verdade ganhe luz, uma história apagada da história. Os depoimentos são impressionantes de pessoas que lutaram em uma guerra dentro do nosso próprio país, que até hoje não é reconhecido pelas altas patentes. As sequelas são inúmeras, os maus tratos e os absurdos vistos de olhos bem de perto deixaram lembranças dolorosas nesses cabos e soldados que praticamente foram jogados para dentro de uma guerra que não queriam lutar.

Imagens da época e fotografias compõem os arcos e ajudam a ilustrar muito do que é falado pelos ex-soldados. 4 mil homens das forças armadas combateram 76 guerrilheiros no Araguaia, muitos desses homens, na época jovens, que moravam na região, que conheciam o lugar e que foram jogados para dentro do exército.  A imensidão dos horrores que a Ditadura Militar causou durante os mais de 20 anos que esteve presente é um imenso fantasma, esses relatos se somam ao número total de vítimas dessa violência vivida nessa época que mancha nossa memória.


Todos que somos brasileiros precisamos entender melhor nossa própria história. Soldados do Araguaia é preciso ser discutido em salas de aula, usando o bom cinema documentário como ferramenta de ensino. Os livros não contam tudo o que houve, por isso, a importância desse belo documentário que dá voz às memórias de brasileiros que sofrem até hoje por conta de todo o caos que viram de perto.
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Crítica do filme: 'Lola Pater'


As atualidades de um morrer por amor. Dirigido pelo cineasta parisiense Nadir Moknèche, Lola Pater fala sobre escolhas, medos e principalmente sobre a relação de pai e filho blindada por uma situação inusitada, de descoberta, onde passos são dados com muito cuidado. Os personagens transbordam emoções, a protagonista exala simpatia. É uma crônica moderna de uma família com descendentes árabes onde as escolham guiaram os destinos de todos anos atrás. No papel principal, a inesquecível Fanny Ardant. a atriz de 68 anos, musa de Truffaut, encontra num complexo personagem um dos grandes trabalhos de toda uma carreira.

Na trama, conhecemos Zinedine (Tewfik Jallab), também chamado de Zino, um afinador de instrumentos, motoqueiro que trabalha em uma Paris nos dias atuais. Zino acaba de perder precocemente sua mãe e resolver embarcar em uma jornada rumo ao paradeiro desconhecido de seu pai Farid. Nessa busca, chega até a professora de dança Lola (Fanny Ardant) que para sua surpresa é o seu verdadeiro pai que após anos fez uma cirurgia e virou mulher. Assim, pai e filho precisarão combater as mágoas do passado e tentar recriar os laços perdidos pelo tempo.

Precisamos falar de Fanny Ardant. A delicadeza com que compõe seu personagem é algo sublime, transborda emoção com um olhar amargurado de quem já sofreu bastante pela vida e muito por conta das escolhas do personagem. É muito fácil se encantar com Lola, dona de uma vitalidade envolta de uma arte apurada, uma força da natureza encantadora que precisou se blindar de muitos sentimentos bons para apagar manchas de seu passado como homem e pai ausente na criação de seu único filho.  Talvez um recomeço, quando é procurada pelo filho, entra em conflito, não sabendo direito como lidar com essa situação do reencontro e com um medo constante da reação de seu filho já que agora é mulher por completo.

A direção de Moknèche é detalhista e competente, buscando em cada cena transpirar ao público as emoções e as forças dos personagens que cruzam nossos olhos nas árduas batalhas rumo ao entendimento. A narrativa é lenta o que nos faz nos aproximar dos personagens já que conseguimos entende-los melhor. Tendo a arte musical como característica marcante na vida dos dois personagens, preenche a tela com uma delicada trilha sonora que traz um toque requintado a bela história. Lola Pater é atemporal, um projeto venerável que emociona do início ao fim.


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22/11/2017

Crítica do filme: 'Os Parças'

Como acontece em Hollywood desde sua criação, centenas de comédias avançam cinemas a dentro em busca do riso fácil, reunindo gente famosa, da nova e velha guarda, e simplesmente deixando de lado qualidade no roteiro, direção. Os Parças, nova comédia nacional, que estreia na última quinta-feira desse mês de novembro,  busca, através de personagens estereotipados, resgatar histórias de um Brasil largado na malandragem. Dirigido pelo cineasta Halder Gomes (do interessante Cine Holliúdy) e protagonizado por Tom Cavalcanti, Bruno de Luca, Tirulipa e Whindersson Nunes, atores e comediantes de diversas plataformas, o filme se transborda nos clichês a cada cena não conseguindo criar a tão sonhada fórmula do sucesso que alia qualidade dos atores a regras básicas cinematográficas.

Na trama, ambientada em uma São Paulo dos dias atuais, conhecemos dois trambiqueiros que trabalham no centro de São Paulo, um faz tudo de informática que trabalha em uma empresa fake que produz casamentos e um malandro locutor de loja que foge pelas ruas pois descobrem que ele estava de namoro com a mulher do chefe. Essas quatro almas se reúnem inusitadamente e são colocadas em uma situação incomum, terão que organizar e planejar o casamento da filha de um bandido de alto escalão da cidade. Sem nenhuma experiência no ramo mas tendo a malandragem a seu alcance, o grupo passará por diversas situações em busca de seus objetivos.

Camuflada em deboches, esquecendo atuações, o projeto navega em um assunto recorrente no Brasil de hoje (e de ontem), a vinda de pessoas de outras regiões do país para um grande centro, em busca do sonho de se estabelecer (financeiramente, principalmente) e trabalhando na clandestinidade das ruas, matando, da sua forma, um leão a cada dia. Chegar nesse conceito e realizar um filme decente parece fácil, mas não é. Em Os Parças, situações são jogadas na tela, falta tratamento no roteiro,  a direção beira ao desastroso, os atores não possuem harmonia em cena, muitas piadas soltas simplesmente não funcionam. É muito mais do mesmo para um filme só.


Há um choque em relação a fazer comédia quando pensamos nas gerações de distancias entre Tom e o restante do elenco. O eterno Ribamar de Sai de Baixo, busca nas imitações e suas fantásticas sacadas de voz (que vem das suas origens na rádio) um lugar seguro para seu personagem. Já Whindersson Nunes, jovem youtuber, sensação na internet, parece não acertar seu tempo de comédia à tela grande. No cinema, nada acontece de maneira instantânea, precisa-se de estruturação na criação de um enredo senão absolutamente nada funciona.
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18/11/2017

Crítica do filme: 'Como se Tornar um Conquistador'

O tempo não perdoa seu tempo acomodado. Estreou no meio desse ano nos cinemas nacionais a comédia mexicana Como se Tornar um Conquistador. Totalmente despretensiosa e exalando carisma esse projeto mexicano é uma boa diversão que mesmo tendo clichês em cima de clichês consegue se superar pela força dos personagens. Escrito pela dupla Chris Spain e Jon Zack, e protagonizado pelo astro mexicano Eugenio Derbez (Não Aceitamos Devoluções) o longa marca a estreia do ator Ken Marino na direção.

Na trama, conhecemos o metido a galã de meia idade Maximo (Eugenio Derbez) que vive a 25 anos com uma mulher bem mais velha e cheia da grana. Maximo nunca trabalhou na vida e sempre almejou ter uma vida de conforto sem ter que fazer muito esforço para conquistas. Quando sua esposa o troca por um homem bem mais jovem, Maximo fica sem dinheiro e busca ajuda na irmã, a arquiteta e super mãe Sara (Salma Hayek) que vive uma vida mais simples com sua filho Hugo (Raphael Alejandro). Assim, os irmãos precisarão enfrentar as tristezas do passado distante e juntos superar seus problemas.

O filme camufla todo o drama nas cenas cômicas que preenchem boa parte da trama. Realmente fica muito difícil não rir com um Eugenio Derbez inspirado, mesmo algumas cenas beirando o tosco. A relação entre tio e sobrinho, distante por anos, volta com a toda força mesmo sendo de universos e criações completamente diferentes. O jovem vê no tio uma figura paterna que não tinha desde que o pai falecera anos atrás. Há espaço também para entendermos melhor a relação dos irmãos que antes bastante unidos tomam rumos completamente distintos para sua vida na América.

As tentativas de conquistas do protagonista são a grande cereja do filme, os mini clímaxs que aparecem em cada uma dessas cenas dá um charme ao filme, uma cena mais hilária que a outra. De exageros, mesmo sendo muitos não atrapalham o andamento da história, a relação de amizade de Maximo com o amigo Rick (Rob Lowe), também um homem de meia idade que se rende à acomodação e interesse de uma relação com uma senhora pobre de rica, é bastante superficial e exagerada, assim como as entradas da sumida Kristen Bell e sua personagem Cindy, um ponto totalmente fora da curva.

Como se Tornar um Conquistador, apesar dos exageros, não deixa de ser uma boa diversão, busca no riso fácil explorar tensões familiares, em cenas muito engraçadas, e com um Eugenio Derbez dominando as cenas.

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Crítica do filme: 'Muzi v nadeji'

As sutilezas do amor. Escrito e dirigido pelo cineasta tcheco Jirí Vejdelek, Muzi v nadeji (2011) é um filme despretensioso, que se camufla em comédia pastelão mas aos poucos vai cativando nossos corações. Fala muito sobre o amor a quatro paredes, de maneiras um tanto quanto inusitadas, representado por um quarteto de atores inspirados que conquistam o público a cada cena. Uma pequena obra prima européia, perdida, provavelmente nunca vista mas que merece os olhos de todos que amam cinema.

Na trama, conhecemos o ex-contador e agora garçom do restaurante da família Ondrej (Jirí Machácek), um homem de fala mansa que vive graves problemas em seu casamento com Alice (Petra Hrebícková). Certo dia, em uma das inúmeras saidinhas do seu sogro Rudolf (Bolek Polívka), das quais Ondrej sempre acaba virando cúmplice, a dupla vai parar em um snooker bar onde encontram a belíssima Sarlota (Vica Kerekes), conhecida do traidor compulsivo Rudolf. Só que dessa vez, a provável conquista acaba ficando encantada com Ondrej que começa a conhecer melhor Sarlota. Assim, posta a confusão, o quarteto enfrentará situações inusitadas em busca da tão sonhada felicidade.

Alimentado por desejos quase compulsivos as ações acontecem a partir das revelações de Rudolf, que trai a mulher faz anos e com diversas damas diferentes. Ele se sente bem com isso, e acredita que assim consegue manter a chama acesa com sua esposa até os dias de hoje. Ondrej, muito próximo do sogro, afinal são vizinhos, acaba embarcando nessa onda, só que sem a experiência de Rudolf, se mete no inusitado caso extra conjugal com Sarlota, o que de fato faz melhorar seu relacionamento com Alice mas a todo instante ele não sabe como lidar com isso. Muitas cenas hilárias dão luz a essa verdade, os diálogos entre Rudolf e Ondrej são ótimos e repletos de simpatia.

A princípio, pensamos que Muzi v nadeji é uma comédia bobinha, com recheio sexy sem muitas pretensões. Mas o que impressiona no roteiro, escrito também pelo diretor, é a forma que acontecem as viradas na história, uma melhor que a outra, e com todos os personagens envolvidos, deixando o público se abastecer de risadas deliciosas e momentos cativantes que muito mostram as verdades de diversos relacionamentos.


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Crítica do filme: 'A Gentleman'

Misturando ação, comédia e romance, com direito a pausas para números musicais super coreografados, chegou aos cinemas de toda a Índia em agosto desse ano, o divertido A Gentleman. Dirigido pela dupla de cineastas Krishna D.K. e Raj Nidimoru, o projeto filmes de ação norte americanos da década de 90 camuflado por um drama existencial, uma verdadeira troca de identidade, que passa o carismático protagonista. Ao longo das mais de duas horas de projeção (os filmes indianos geralmente são bem grandes), o espectador se diverte bastante.

Na trama, conhecemos o funcionário exemplar, todo metódico e certinho, de uma empresa com sede nos Estados Unidos e com filiais em outros países, Gaurav (Sidharth Malhotra), um jovem que possui uma paixonite pela amiga Kavya (Jacqueline Fernandez), ambos descendentes de indianos mas que moram nos Estados Unidos vivendo no melhor estilo ocidental, cada um na sua. Kavya ao longo do tempo percebe da intenção de Gaurav e se distancia por achá-lo muito certinho. Tudo muda quando descobrimos que na verdade Gaurav se chama  Rishi, um ex-agente do governo que participava de um grupo clandestino de operações secretas e desertou com nova identidade para a América. Quando seus ex-colegas desembarcam nos Estados Unidos afim de alguns acertos de conta, toda a vida correta de Gaurav vira um grande naufrágio e se enche de confusões.

Como são divertidos os filmes indianos, além de expor sua cultura e características marcantes (as famosas dancinhas). No caso de A Gentleman, o roteiro é a arma do sucesso. Joga o público em Estados Unidos nos dias atuais, faz leves críticas ao modo de vida norte americano (esteriotipando personagens, principalmente) e apresenta sequências de ação de deixar muita produção de filme americano de queixo caído. O conflito entre culturas chega por meio dos pais de Kavya que chegam aos Estados Unidos com a intenção de casar a filha e se deparam com o início de conflitos que Gaurav começa a enfrentar com a descoberta real de sua identidade. Ao longo dos compridos 140 minutos de projeção, consegue preencher todas as lacunas para um bom divertimento do lado de cá da telona.

A grande pena é que dificilmente esse projeto chega aos cinemas brasileiros (talvez e no máximo uma Netflix consiga os direitos). Os olhares das distribuidoras que existem por aqui ainda não conseguem enxergar o grande potencial existente em filmes de Bollywood, um dos gigantescos mercados do mundo e que possui muitos filmes com grande potencial.

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Crítica do filme: 'A Morte Te dá Parabéns'

O ‘Bu’ que já vimos em outros filmes. Misturando Feitiço do Tempo (com direito a citação ao fim da trama) com diversos filmes do universo terror dos anos 90 (encabeçado pela saga clássica de Wes Craven – Pânico) chegou aos cinemas brasileiros perto da simbólica data de Dias das Bruxas, A Morte Te dá Parabéns. Sem nenhuma pretensão de fazer algo diferente do que visto em outros roteiros, em relação aos mistérios envoltos a um assassino mascarado, esse projeto ganha a intenção apenas de trazer para geração do whatsapp um pouco do passado dos filmes de terror norte americano que levaram milhares ao cinema para conhecer seus mistérios.

Na trama, dirigida pelo cineasta californiano Christopher Landon (do engraçadinho Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi), acompanhamos a fútil e desinteressada Tree (Jessica Rothe, do simpático Sobre Viagens e Amores), uma estudante de graduação que vê o inusitado acontecer em sua vida quando o mesmo dia se repete seguidamente, e o pior: ela morre ao fim de cada noite. Querendo descobrir uma fórmula mágica para ver se acorda no outro dia, ela passa a investigar o próprio futuro assassinato com a ajuda do novo amigo Carter (Israel Broussard).


Se trouxesse alguma novidade ao tema, poderia ser um prato cheio para os amantes do gênero. Mas não, opta pelo caminho mais seguro, o feijão com arroz já apresentado na terra do Tio Sam. O esforço da protagonista, interpretada pela talentosa Jessica Rothe uma hora chega a ficar cansativo/exagerado. As idas e vindas no dia acontecem de maneira pouco detalhista tentando puxar para um ar cômico forçado a cada nova acordada. O clímax só chega perto do fim, quando descobrimos quem estar por trás da tragédia anunciada, que dificilmente convence alguém. A Morte Te dá Parabéns é um passatempo repetitivo onde a cada minuto que passa percebemos que já vimos aquela história em algum lugar de nossas mentes cinéfilas.
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Crítica do filme: 'O Dia Depois (Geu-hu)'

O confronto das palavras com o real. Concorrente a Palma de Ouro na edição passada no Festival de Cannes, Geu-hu, no original, é um retrato profundo sobre os sentimentos, suas razões e emoções quando afloram, fala também sobre a existência e maneiras de pensar sobre, não deixando de lado a forma como enxergamos as visões dos outros. Fragmentado quase em capítulos desordenados, com um preto e branco maravilhoso de pano de fundo, O Dia Depois mostra mais uma vez a todos o imenso talento do cineasta sul coreano Hong Sang-soo que nos apresenta a arte de decifrar as filosofias do universo de maneira madura e ao mesmo tempo as incertezas imaturas dos relacionamentos.

Na trama, conhecemos Song Areum (Min-hee Kim), uma jovem que vai para o primeiro dia de seu novo emprego em uma pequena editora comandada por Kim Bongwan (Hae-hyo Kwon). Se identificando demais com seu novo chefe durante os longos diálogos que participam os dois durante um almoço, tudo ia muito bem. Mas certa hora do dia, a esposa do seu chefe aparece de surpresa e começa a tirar satisfações com Areum sobre uma possível traição com seu marido. A partir disso, embarcamos em uma viagem rumos as verdades dessa delicada situação, principalmente quando a verdadeira amante de Kim Bongwan volta a cena.

A estética é exuberante. Entre os zooms e os paralelos da lente do ótimo Hong Sang-soo conhecemos uma curiosa história preenchida detalhadamente com diálogos inspirados. O inusitado faz com que o drama no dia de Areum vire quase uma comédia pastelão, por conta das absurdas idas e vindas provocados pelo perturbado e indeciso chefe da editora, interpretado pelo excelente ator Hae-hyo Kwon. Repleto de lições de moral que não duram dois minutos, a gangorra dos acontecimentos do quarteto criado é pra lá de cômico e explica bastante sobre as características dos personagens.


Estimado em 100 mil dólares, valor consideravelmente baixo, O Dia Depois chega nos próximos meses no circuito brasileiro. Um filme poderoso, de diálogos intensos, onde os personagens lutam a todo instante atrás das curas que encontram  facilmente em palavras mas somente às vezes na realidade.
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14/11/2017

Crítica do filme: 'Estes Dias' (Questi Giorni)

Na juventude, aprendemos; na maturidade, compreendemos. Exibido no Festival de Veneza do ano passado onde concorreu ao Leão de Ouro, Estes Dias, ou Questi Giorni no original é um Road movie italiano que explora a passagem da adolescência para a vida adulta de quatro amigas que embarcam em uma viagem de descobertas, sentimentos e muito aprendizagem. Escrito e dirigido pelo cineasta Giuseppe Piccioni, o projeto explora as emoções, as dores e as inconseqüências da vida por quatro óticas completamente distintas mas que se completam de alguma forma.

Na trama, conhecemos Liliana (Maria Roveran), Caterina (Marta Gastini), Anna (Caterina Le Caselle) e Angela (Laura Adriani), quatro amigas que se conhecem desde a infância que viem momentos distintos de suas vidas. Liliana enfrenta um câncer e nutre uma paixonite por um atencioso professor da universidade que freqüenta, Caterina resolve embarcar em um novo destino se mudando de país em busca de descobertas, Anna está grávida do namorado e ainda tenta entender sua gestação, Angela vive um relacionamento ioiô com um homem um pouco mais velho e se coloca em dúvida da continuação do mesmo. As quatro embarca em uma viagem organizado por Caterina que está indo para outro país e leva as amigas para esse seu recomeço. Durante essa jornada, elas enfrentarão medos, e novas descobertas que serão sua nova bússola em relação a forma como enxergam as coisas.

O grande mérito desse singelo trabalho é explorar os sentimentos, com bastante detalhes, de cada uma das jovens. O início é bastante interessante com pensamentos narrados e várias olhadas para a câmera, uma apresentação profunda mostrando o início das mudanças que as jovens passariam. Ao longo dos arcos não vemos uma grande ruptura nos pensamentos mas sim aprendizagem por fatos e situações que vivem. Quem preenche mais a tela com algum tipo de transformação é Liliana, quase a líder desse pequeno grupo e onde as lentes mais alcançam, ponto de equilíbrio das jovens, passa por um grave problema de saúde do qual esconde de todos, inclusive de sua mãe cabeleireira Adria, interpretada pela bela Margherita Buy (do ótimo Mia Madre) em atuação marcante.


Ainda sem previsão no Brasil, Questi Giorni cumpre bem seu papel ao falar de amizade e sentimentos, sempre com uma inteligente visão de Piccioni que consegue captar muito mais que um simples olhar.

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