26/03/2018

Crítica do filme: 'Ícaro'


Vencedor do primeiro prêmio conquistado por uma produção da Netflix no Oscar, o excelente documentário Ícaro traz a tona um caso que afeta de maneira geral a integridade de órgãos de proteção ao doping pelo mundo. Dirigido pelo ciclista amador Bryan Fogel, o projeto é um grande experimento sobre o uso de substâncias proibidas em grandes eventos esportivos, principalmente, o maior de todos eles, as olimpíadas.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Bryan Fogel, um amante do ciclismo, fã (ou ex-fã) de Lance Armstrong que resolve investigar por si mesmo um dos casos mais elaborados de doping da história, ocorrido na Rússia. Assim, consegue o contato do bioquímico Grigory Rodchenkov, um dos chefes do controle russo de doping. Assim, assistimos por meio de declarações polêmicas e muitas provas apresentadas que o programa russo usava drogas desde da década de 60 para melhorar o desempenho dos seus atletas, e o pior de tudo, sempre com o aval do presidente, Vladimir Putin.

De um simples experimento para tentar tirar a prova real se realmente algumas substâncias aumentam o desempenho dos atletas, o projeto se transforma em um grande thriller documentário principalmente quando o cerco das autoridades mundiais, principalmente a WADA, se fecha em torno dos russos. Antes consultor, do experimento que Fogel fez, Rodchenkov se torna pessoa não grata na Rússia e precisa fugir para os Estados Unidos em busca de proteção, pois seu depoimento para as autoridades é de supra importância para o melhor esclarecimento dos detalhes de todo o planejamento ilegal dos russos em diversas competições e de diversas modalidades esportivas ao longo dos anos.

A força das documentações e argumentos obtidos por Fogel e sua equipe, foram usados como argumentos para o veto da delegação Russa em muitas competições, inclusive nas olímpiadas que aconteceram aqui no RJ.


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19/03/2018

Crítica do filme: 'Sem Perdão' (Shot Caller)


O caminho sem volta, o eterno dilema entre a responsabilidade e suas consequências. Novo no excelente catálogo do Netflix, o drama Sem Perdão, que absurdamente não passou na janela cinema aqui no Brasil, é um daqueles preciosos achados. Dirigido cineasta californiano Ric Roman Waugh (do interessante O Acordo (2013)), o longa-metragem é pura adrenalina, com cenas intensas e muito bem captadas. As atuações são excelentes, principalmente do protagonista, o Jaime Lannister do aclamado seriado da HBO Game of Thrones, o ator dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau.

Na trama, conhecemos o consultor de imóveis Jacob (Nikolaj Coster-Waldau) que após uma noite de comemoração com sua esposa e um casal de amigos acaba avançando o sinal vermelho, causando um acidente com mortes. Chegando na prisão de segurança máxima, percebe que precisa se impor para sobreviver nesse ambiente hostil. Assim, aos poucos, acaba se transformando no violento Money, um dos cabeças de um grupo violento.

O drama vivido pelo protagonista é intenso e bastante complexo. Antes um homem de bem, com princípios e muito ético, comete um erro que muda toda sua vida, o afastando do convívio dos que ama e aos poucos modelando sua personalidade. Um lado obscuro é a luz no fim do túnel desse sofrido personagem, que usa e abusa de sua racionalidade até nos momentos que encostam em um futuro final feliz. A viagem sem volta é constatada pelas reações do personagem, uma atuação espetacular de Nikolaj Coster-Waldau, seu grande trabalho no cinema até então.

Essa mudança de personalidade é a grande chave do filme para o sucesso de sua trama. Percebemos em uma narrativa com idas e vindas na trajetória de Money, como tudo foi acontecendo de uma hora para outra em sua vida. A força que possui vem de sua família, mesmo estando longe, pois sabe que para protegê-los terá que executar ações que vão contra a sua vontade. Na busca por proteção na prisão, a consequência é um inferno nunca camuflado de paraíso.

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15/03/2018

Crítica do filme: 'Maria Madalena'

Uma das figuras bíblicas mais misteriosas de todos os tempos é apresentada ao público dentro de uma forte narrativa, com argumentos bem embasados, delicadas e bem produzidas cenas, com legendas de explicações antes e no final da projeção, batendo o martelo para mais uma versão sobre Maria Madalena. A responsabilidade da direção fica a cargo do cineasta australiano Garth Davis (do melodramático Lion: Uma Jornada Para Casa) que impõe sua direção e ritmo elevando sequências de emoções mas caindo de repente com momentos de grande sonolência. No papel principal, a jovem mas experiente Rooney Mara, em um papel muito diferente da Lisbeth Salander de Fincher.

Na trama, escrita por Helen Edmundson e Philippa Goslett, conhecemos Maria Madalena (Rooney Mara) uma jovem por volta dos 20 anos que mora em um vilarejo de pescadores chamado Magdala. Maria não vive feliz, e luta contra sua família porque não quer se casar. Beirando a depressão e perdendo a vontade de viver, fica sabendo de pregações de um homem chamado Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix) e aos poucos vai se aproximando dele até virar uma das suas mais próximas discípulas.

O filme passa longe de algumas polêmicas, se aproximando mais no foco da protagonista ser uma pessoa muito importante na trajetória de Jesus pela Terra, já na vida adulta. Ao longo dos cansativos 120 minutos de projeção, percebemos um foco no feminismo, em uma história que foi escrita para se tornar atemporal. O Jesus interpretado pelo excelente Joaquin Phoenix quase passa desapercebido, dá margem para os coadjuvantes também brilharem, fato que infelizmente não acontece. O ritmo lento do projeto se entrelaça com momentos marcantes como a oração do pai nosso, que de longe é a melhor cena do filme.

Citada apenas dezessete vezes na bíblia, Maria Madalena foi uma figura bastante importante na trajetória de Jesus pela Terra, já na vida adulta. Para quem está curioso, o filme não consegue preencher muitos mistérios relatados por muitos de tempos em tempos. Como filme, funciona até certo momento mas os minutos vão se tornando cansativos longe dos clímaxs que possui.
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14/03/2018

Crítica do filme: 'A Número Um'


A força está nos argumentos, nos fatos. Com uma atuação destacada da excelente atriz francesa Emmanuelle Devos (indicada ao Goya desse ano e vencedora do Lumiere Awards 2018), A Número Um faz uma espécie de investigação sobre os preconceitos sofridos pelas mulheres no mercado de trabalho, assim, com um eficaz aspirador da ética navega por situações onde o conflito do poder se mostra como uma grande fraqueza em um mundo desenvolvido como o que vivemos hoje.  Dirigido pela cineasta francesa Tonie Marshall, roteirista do recente Sexo, Amor e Terapia, A Número Um é um filme importante e merece nossa atenção.

Na trama, conhecemos a determinada e de personalidade forte Emmanuelle (Emmanuelle Devos), uma executiva de uma grande empresa que após enfim ser reconhecida por todo o trabalho feito até então,  recebe a oferta de se tornar a primeira presidente da multinacional. Logo após receber essa oportunidade, percebe que será uma chance repleta de desafios, pois se aceitar ser a presidente terá que lidar com o preconceito de muitos homens da empresa e também seus egos, além disso, a decisão que tomar, afetará sua vida familiar com interesses em conflito com o marido.

O ritmo é lento, de vez em quando beira ao sonolento. É preciso estar atento à força dos detalhes e a atuação de sua protagonista. As entrelinhas dizem muito mais do que muito dos longos e intensos diálogos que navegam cena pós cena. O filme pode ser caracterizado como uma grande investigação sobre os direitos femininos no concorrido mercada de trabalho de um continente europeu repleto de mudanças em suas estruturas de gestões a cada ano.  Uma das referência de Marshall na hora de roteirizar (sim, ela também uma das roteiristas do projeto) foi o ótimo Margin Call - O Dia Antes do Fim de J.C. Chandor.

A parte familiar também ganha uma pequena lupa e em objetivas cenas, pouco aprofundadas é verdade, percebemos que as escolhas da protagonista ferem objetivos de seu marido, inflando uma sequência de consequências que afeta demais o relacionamento deles. A maneira como a personagem principal reage a todo o caos que se torna sua vida é de se chamar a atenção, sempre ponderada e fazendo parecer que tem sempre uma cartada na manga para as ações de pessoas que não a querem naquela posição da empresa.

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13/03/2018

Crítica do filme: 'A Livraria'


Ganhador do prestigiado prêmio Goya desse ano, o longa-metragem A Livraria, novo trabalho da renomada cineasta Isabel Coixet, é um singelo retrato sobre o mundo da literatura e tudo o que gira ao seu redor quando pensamento em sociedade em uma Europa repleta de transformações no final da década de 50. Baseado no aclamado romance homônimo de Penelope Fitzgerald, o projeto dá luz a força feminina em uma época repleta de tensões movidas por interesses.

Na trama, acompanhamos a saga de uma viúva bastante inteligente chamada Florence (Emily Mortimer) que após a perda do marido, resolve empreender, arriscando tudo que possui para abrir uma livraria em uma cidade litorânea no interior de uma Inglaterra perto do início dos anos 60. Enfrentando dificuldades que nunca imaginara, com maior força por conta de interesses de forças da elite local, encabeçada pela excêntrica Violet (Patricia Clarkson), Florence precisará ter muita força de vontade para seu negócio dar certo e também contará com a ajuda de Edmund (Bill Nighy), um recluso morador da cidade que está cansado da mesmice e da falta de renovação cultural onde vive.

Passeando por clássicos como Lolita, livro famoso e polêmico do escritor russo Vladimir Nabokov e Fahrenheit 451 do norte-americano Ray Bradbury, a protagonista embarca em uma viagem de renovação cultural na cidadezinha que escolheu. Esse despertar cultural é um grande choque para alguns, mas aos poucos, Florence, consegue ter mais adeptos a sua ideia empreendedora, fruto dos potenciais literários em abrir a mente para o mundo, uma grande janela para a alma.  

Tudo em The Bookshop, no original, é muito delicado e com um ritmo equilibrado. É uma adaptação forte e consistente do livro de Fitzgerald. Os embates entre Violet e Florence são ótimos e transparecem ao espectador todo o pensamento de uma época bastante limitada quando pensamos em liberdade intelectual e empreendimentos inovadores em uma sociedade que beira ao desconhecimento do mundo onde vivem.

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25/02/2018

Crítica do filme: 'Os Farofeiros'

Quando as piadas do cotidiano dão certo. Sim, estamos acostumados a cada ano que passa, assistirmos nos cinemas brasileiros, comédias nacionais repletas de situações tragicômicas, diálogos ‘stand up comedy’, personagens que se assemelham filme após filme. Os Farofeiros, novo trabalho do campeão de bilheteria Roberto Santucci, tem uma estrutura parecida com outros trabalhos do competente cineasta brasileiro, porém, com a vantagem de que dessa vez as piadas funcionam na maior parte do tempo, muitas dessas por um inspirado humorista que enfim recebe uma chance nos cinemas, Mauricio Manfrini, o conhecido Paulinho Gogó.

Na trama, conhecemos quatro amigos, de classe média, com personalidades diferentes que trabalham juntos a mais de uma década em uma empresa que está passando por problemas por conta da crise. Alexandre (Antônio Fragoso),acaba de conseguir uma promoção e após a volta das férias precisará demitir um de seus amigos: Lima (Maurício Manfrini), Rocha (Charles Paraventi), Diguinho (Nilton Bicudo). Mas antes disso, os quatro embarcam em uma viagem de férias ao lado de seus familiares e muitas confusões, além de situações tragicômicas estão o esperando.

Quem nunca embarcou em uma viagem onde muitas coisas não deram certo? Pensando em resgatar essas memórias do espectador, Os Farofeiros consegue se aproximar da realidade de muitos, mesmo com os exageros que aparecem em algumas comédias nacionais, transformando simples diálogos em situações bastante engraçadas. É muito difícil não rir na maior parte do tempo. Aquelas conversas de bar entre amigos sobre a mulher do conhecido, sobre a inveja ao homem bonito, aquelas zoações do cotidiano são munição do roteiro escrito pela dupla Paulo Cursino e Odete Damico. Um dos méritos da produção é que não há um forte protagonista, todo mundo é um coadjuvante competente, emprestando a força do seu respectivo personagem para o bom ritmo da trama.

Mas, todo filme tem um destaque. Nesse, o comediante, conhecido por um emblemático personagem do programa A Praça é Nossa, e que cansou de lotar teatros pelo Brasil com seu show de comédia, recebe a oportunidade de participar de um filme e passa com louvor no teste. Mauricio Manfrini consegue um aproveitamento gigantesco no encaixe do seu personagem, ele dita o ritmo da comédia. Conhecido por muitos como Paulinho Gogó, executa um humor bastante envolvente que agrada a todos os públicos.

Os Farofeiros é uma comédia nacional que podemos dizer (finalmente, exceto poucas outras) que realmente é engraçada. Talvez consiga agradar a muitos públicos. Mesmo a turma que só gosta do ‘cinema de arte’ deve dar uma chance a essa comédia, pode se surpreender bastante e se deliciar com um verdadeiro show de um dos maiores humoristas do Brasil.

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16/02/2018

Crítica do filme: 'Todas As Razões Para Esquecer'

É preciso sofrer para se chegar aos momentos felizes. Focando em temas atemporais que pairam o universo do primeiro amor, o projeto apresenta um protagonista repleto de dificuldades em entender seus sentimentos e com uma certa síndrome ligada à solidão. Escrito e dirigido pelo cineasta Pedro Coutinho o longa deve agradar ao público jovem e que se interessa pelo bom cinema nacional. Exibido no último Festival do Rio de Cinema, Todas as Razões para Esquecer é um pequeno e interessante recorte sobre a descoberta da maturidade em nossas juventudes prolongadas.

Na trama, tendo como pano de fundo uma bela trilha sonora, conhecemos o complicado Antônio (Johnny Massaro) que acaba de terminar um relacionamento com Sofia (Bianca Comparato), o grande amor de sua vida. O protagonista não consegue entender os porquês do término e começa a navegar em uma trajetória de autoconhecimento,  usando todo tipo de medida nunca antes usada por ele, como ir ao psiquiatra, usar o Tinder, remédios ansiolíticos, em busca de descobertas para melhorar seus dias.

Há um ar melancólico, tons de comédia suaves, e com premissas ligadas às metáforas que a vida traz. Dividido em arcos profundos, com algumas situações tragicômicas, busca por meio de diálogos expressivos dar um certo carisma ao protagonista, interpretado pelo ótimo Johnny Massaro. As idas e vindas dos coadjuvantes, pessoas que envolvem a vida do personagem principal, dão um certo ritmo ao filme sempre buscando surpreender pelas ações inconsequentes e ligadas as emoções do momento dos personagens.


O filme conversa com sucessos como 500 Dias com Ela e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança, apesar de ter uma linha até certo ponto original a desenvolver seu protagonista de maneira coerente. A chave para uma boa sessão é compreender a relação e as exposições de Antônio com a psiquiatra que o atende, a partir dessas curtas mas intensas conversas  compreendemos melhor o quão perdido está o personagem e assim embarcando em sua história repleto de altos e baixos. 
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13/02/2018

Crítica do filme: 'Projeto Flórida'

Depois do ótimo Tangerine, o cineasta Sean Baker volta as telonas com um dos filmes sensações da temporada e que deu a Willem Dafoe sua terceira indicação ao Oscar. Projeto Flórida fala sobre a criação familiar de uma garotinha que vive em um hotel com sua mãe alucinada onde cada dia é um novo recomeço e uma luta pela sobrevivência para coisas básicas da vida. Baker dirige com bastante sensibilidade, atingindo pontos importantes sobre família.

Exibido no Festival de Cannes do ano passado, o filme conta a história de Moonee (Brooklynn Kimberly Prince) uma garotinha por volta dos sete anos que mora com a mãe Halley (Bria Vinaite) em um hotel de cor roxa, próximo aos parques da Disney, gerenciado pelo compreensivo Bobby (Willem Dafoe). Moonee passa seus dias de férias brincando com alguns amiguinhos, aprontando muitas travessuras e que viverá uma situação complexa por conta da falta de maturidade da mãe.

Com previsão de estreia no circuito brasileiro no dia 01 de março, o projeto mostra um retrato de uma mãe e sua única filha que vivem quase de favores dia a dia, sem conseguirem, cada a sua maneira, imaginar um futuro mais promissor. O olhar da criança chega por Moonee (interpretada pela ótima Brooklynn Kimberly Prince) que aproveita as férias se divertindo com os amigos, de maneira ofensiva muitas vezes com algumas brincadeiras que dão errado, gerando conseqüências que não chegam ao ar de compreensão da jovem, muito por conta do exemplo de ter uma mãe inconseqüente e sem responsabilidades na vida. No lar onde vivem, com as roupas e objetos jogados pelo minúsculo quarto, há amor e carinho mas envoltos nos atos inconseqüentes de Halley.

Um ponto de interseção de tudo o que vemos, Bobby é um gerente que procura resolver tudo no hotel para que todos se sintam bem. Longe de ser perfeito, possui um ar de protetor olhando sempre a situação de todos que moram por lá. Tenta de muitas maneiras dar conselhos a Halley e parece saber que alguma conseqüência cairá sobre a filha dela. Mesmo tentando fazer o bem, Bobby sabe que não tem como mudar o mundo mas fica por perto para ajudar sempre que possível.

Projeto Flórida é um pequeno grande filme, adorado por muitos. É um recorte importante sobre mãe e filha, além de tocar em assuntos que geram muita reflexão.


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Crítica do filme: 'Trama Fantasma'

Um amor pode ser sinistro, peculiar e ainda ter charme. Escrito e dirigido pelo genial cineasta californiano Paul Thomas Anderson (Sangue Negro, Embriagado de Amor, Boogie Nights), Trama Fantasma é desde seu início um complexo quebra cabeça amoroso, cheio de tensões, um humor peculiar, reunindo emoções via personagens cirúrgicos, emblemáticos, que prendem a atenção do público. O espectador não precisa esperar algo linear, cheio de coesão, os detalhes são o que comandam a narrativa, juntamente com atuações inspiradas do trio Vicky Krieps, Daniel Day-Lewis e Lesley Manville. O do meio, em seu último trabalho (já que anunciou aposentadoria) e com mais uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Ator.

Na trama, ambientada em meados da década de 50, conhecemos o excêntrico, perfeccionista e renomado estilista Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), um às em sua profissão, procurado por duquesas e mulheres de família nobre para encomendas de vestidos de luxo, elogiados por todo lugar. Reynolds trabalha com sua irmã Cyril (Lesley Manville), seu braço direito e porque não dizer um porto seguro para suas agonias e falta de compreensão de sentimentos dos outros. Certo dia, após dar uma parada para um farto café da manhã em um estabelecimento, conhece Alma (Vicky Krieps) por quem logo se apaixona. Assim, de maneira relâmpaga, como os antigos amores mais profundo e duradouros, os dois viverão uma história de muita personalidade e uma troca no poder de quem comanda as ações.

O recorte da personalidade do protagonista é muito bem feito, fato que ajuda o espectador a entender melhor algumas ações ao longo da trama. Tendo como inspiração para seus dezenas de vestidos, antigos amores, o Sr. Woodcock vive diversos dilemas por ter sido sorteado na loteria do amor. Antes seguro e muito confiante, acorda agora com falta de criatividade, vive as incertezas de uma relação conturbada com sua amada Alma, essa, repleta de personalidade e força que faz de tudo para ter a atenção de seu amado mesmo que para isso o coloque em posição próxima à morte. Alma é um pilar que Reynolds alcança poucas vezes. As expectativas criadas por ambos se diferem em algo oposto, causando choques e mais choques que vão da provocação por parte dela e pela impaciência por parte dele.

Indicado ao Oscar 2018 nas categorias: Melhor Filme, Diretor, Ator (Daniel Day-Lewis), Atriz Coadjuvante (Lesley Manville), Figurino e Trilha Sonora, Phantom Thread, no original, é um filme com a assinatura da originalidade de um dos maiores cineastas contemporâneos.


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11/02/2018

Crítica do filme: 'The Square - A Arte da Discórdia'

Quando nem tudo sai como planejado. Depois do ótimo Força Maior, o cineasta e roteirista sueco Ruben Östlund volta as telonas com um filme que busca colocar em evidência, para debates e argumentos, o papel de cada um de nós na sociedade em que vivemos. Ao longo dos 142 minutos de projeção, vemos a narrativa da trama por meio de peça de curta duração, uma espécie de séries de esquetes, método que se desmancha em bons e sonolentos momentos.

O atual detentor da Palma de Ouro, prêmio máximo do impactante Festival de Cannes, conta a história de Christian (Claes Bang), um complicado curador de um famoso museu da capital sueca que está preparando uma exposição bastante peculiar onde um quadrado é o centro de reflexão dos visitantes sobre a sociedade em que vivem. Paralelo ao início desse experimento, o curador se envolve em uma sequência de descontroles a partir do roubo de seu celular.

The Square, no original, segue na linha de ser um filme com espírito reflexivo, onde precisamos buscar na atualidade de nosso conhecimento as entrelinhas das críticas sociais envolvidas por uma série de situações constrangedoras. A grande questão são as associações que o filme se prende em seu desfecho, deixando muitas sequências sem fundamento. É como se uma pizza fosse cortada a La francesa, e os sabores se misturando em ‘squares’ chegando a alguma sensação de compreensão.


O contorno da trama, chega por personagens complexos, como Anne (interpretada pela excelente Elisabeth Moss). Pessoas e situações, que são novidade na vida de Christian, parece que se ligam e ao mesmo tempo desconectam o personagem de sua confortável vida, deixando suas emoções em ebulição, causando um eminente descontrole. O quadrado do título, resumidamente, é a maneira como Christian se encontra, mostrando que qualquer um de nós, quando paramos para refletir podemos mudar a maneira como enxergamos tudo e todos.
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Crítica do filme: 'A Grande Jogada'

Um roteiro Straight Flush. Talvez, o patinho feio da temporada e pouco lembrado pelas escolhas sempre polêmicas dos indicados ao Oscar, A Grande Jogada é um filme rico tecnicamente, com atuações profundas e personagens explosivos com personalidade impactante. Protagonizado pela ótima Jessica Chastain, o filme navega nos guetos luxuosos da oportunidade, onde fazer o dinheiro é questão de minutos. A produção também marca a estreia do roteirista Aaron Sorkin que também assina o roteiro.

Na trama, baseada em fatos reais e no livro Molly's Game: From Hollywood's Elite to Wall Street's Billionaire Boys Club, My High-Stakes Adventure in the World of Underground Poker, A Grande Jogada conta a história de uma ex-atleta de alto rendimento do esqui norte-americana chamada Molly Bloom (Jessica Chastain) que após insucessos na carreira, resolve embarcar em uma jornada inusitada que a leva ao centro de comando das mesas de pôquer mais exclusivas – repletas de pessoas famosas e bilionários – de toda Los Angeles e Nova Iorque. O roteiro faz um bate e volta, passando pelo início de Bloom nessa carreira de empresária e todas as conseqüências que vieram quando chega ao apse do poder.

Uma das coisas mais importantes em uma produção cinematográfica é o ritmo. A Grande Jogada acerta o tom na maior parte dos intensos 140 minutos. Dinâmico, revelador e charmoso, o roteiro de Sorkin (que já ganhou o Oscar por A Rede Social) nos leva a uma viagem ao submundo da jogatina onde o dinheiro rola solto, e as emoções junto com os egos se misturam transformando mesas de pôquer exclusivas – e porque não dizer secretas – em uma roda gigante de blefes, flushes, dramas e disputas pelo poder. Uma das imensas curiosidades, é saber quem era de fato o ‘Player X’, talvez o grande adversário de Molly, um astro mega famoso que muitos dizem ser Tobey Maguire (porém, informação nunca revelada pela verdadeira Molly Bloom).

Como parte da composição da personagem, nos aproximamos de todo um contexto familiar da protagonista, personificado pelas fortes brigas com o exigente pai, o psicólogo Larry (Kevin Costner, em uma interpretação cirúrgica), e a disputa que vivia em casa já que seus irmãos eram bem sucedidos no que escolheram como profissão. Os conflitos com seu advogado Charlie (Idris Elba) também dão força à trama e aos poucos vamos desvendando facetas da personagem principal.

Dia 22 de fevereiro você tem um encontro nos cinemas com uma das personagens femininas mais fortes da temporada. Reunindo uma tempestade de confiança misturada com dramas existenciais, Molly Bloom até hoje guarda segredos de muitos. Um quebra cabeça misterioso, repleto de algo parecido como ética, de uma mulher que tem o poder de informações sobre gente muito poderosa.


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